Uma coisa puxa outra...
Foi lendo a revista PALAVRA, edição Julho de 2000, com a matéria assinada por Anna Karina Bartolomeu: AS CICATRIZES DA REVOLUÇÃO, que descobri um grupo de seis jovens que realizaram o documentário "Mira!", filmado em Cuba. Na ocasião essa descoberta me motivou tanto a assistir o filme, ver a exposição, conhecer o grupo, que fui para Diamantina - MG naquele mês para acompanhar todo lançamento do grupo. O assunto me causou tamanho interesse porque no final de 1999 eu também tinha estado em Cuba para realização de outro projeto, ou melhor, para viver uma outra experiência singular!! ... mas essa é outra história que contarei em outra postagem.
Dessa primeira viagem para Diamantina ficou a minha surpresa, o meu encantamento com aquela cidade e principalmente com o Festival de Inverno da UFMG.
Dessa primeira paragem ficaram algumas lembranças: a revista Palavra, fotografias, desenhos e poesias.
Vim a Diamantina
Reencontrar Cuba
Mexer na gaveta
da memória
Remexer com os sentidos
Lembrar da cor, do som
da gente cubana.
Aqui eu vivo bem e sou feliz ...
A felicidade só pode ser sentida
com simplicidade.
A alegria, o aconchego, o jeito mineiro
o pão de queijo quentinho, rosquinhas, bolachas,
bolo, sorvete, frutas, comida,... fartura.
É, Cuba me lembra comida
Alimento pro corpo e pra alma
O que alimenta a vida
tanto daqui como de lá.
Aqui em Diamantina, nas ruas, nas casas
se exala o cheiro bom das delícias caseiras
das Catarinas, Marias, Ivanas, Carmelas.
Revendo imagens, lugares
Um quarto
Tudo cabe dentro do quarto, da casa antiga
Marcas do tempo envolvem espaços, sob a luz do abajur.
Keller Duarte
13/07/2000
Mais uma coincidência do encontro...
lua, noite, ônibus, revista Palavra
pão de queijo com requeijão...
Regresso, revista, vista, Mira!
Mira Cuba, Mira foto, Mira filme,
Mira ilha! Mira Diamantina...
O telefone liga, toca, liga,
a ponte ...
Pablo Lobato - Belo Horizonte.
pela ideia, lembrança, ideal de
Havana, hoje estou em
Diamantina, no mercado
restaurado.
A viagem, um sono ...
A cidade está em festa, é tempo de festival de arte.
Chegada, parada, pedras,
caminhos de pedras, pedras no
caminho, muro de pedras na estrada ...
montanha de pedras.
Em meio a tantas pedras, o
diamante Diamantina.
Keller Duarte
13/07/2000
Olhar pro chão
chão de pedras
subir, descer
caminhar
caminhos ...
ladeiras
becos
praças
lugares
um espaço truncado
espaço dinâmico
o acúmulo das construções
construções de pedras
pedras velhas
velha arquitetura
dura, que resiste no tempo
guarda o tempo
tempo, lugar e gente
gente com sotaque na fala
a fala da velha, do velho,
do menino.
Menino engraxate, que
engraxa sapatos de couro
num tempo que usa tênis
de pano, e ele caminha
com caixa e banquinho.
Olhar Diamantina de dentro
do mercado pra fora
A cidade se ergue em volta
Do outro lado, arcos e telhados.
Keller Duarte
13/07/2000
Chegar em Diamantina e olhar pro chão
Chão de pedras, muita pedra
Mosaico bruto
Exposto ao céu
Depois de muito chão
Parar e olhar pro céu
Noite com lua e estrelas
Lua cheia, redonda
Clareia o chão
Olhar pra frente, distante
e próxima
se ergue a serra, grande rocha
Caminhos da serra
Caminhos dos escravos
Escavados na montanha
Na busca da pedra
pedra rara, pedra escassa
pedra bela.
Ela trouxe o garimpo
e o garimpeiro que sonha
com ela
pedra que brilha, fascina,
cega,
só vejo agora o ladrilho desse chão.
Keller Duarte
07/2000
As pedras são
as células da cidade.
As pessoas circulantes
são o fluído
desse corpo.
Keller Duarte
07/2000
Na noite fria
O casaco vermelho
a taça de vinho
- espaguete à bolonhesa
o filme do Almodóvar
desejo!
Keller Duarte
07/2000
Algumas produções e fragmentos dessa viagem deixaram marcas para me fazer voltar pra lá no ano seguinte, dessa vez participando do festival, e estando lá por todo o mês de julho de 2001.
Esse é o o tema da proxima postagem.
Onze anos depois, essa experiência foi identificada como uma experiência singular, e integra um artigo e uma publicação do projeto "Por onde andei".
K.