segunda-feira, 12 de março de 2012

Entre: arte contemporânea e fotografia


Fala-se muito na aceitação da diferença, porém ela é rara.
Implica uma generosidade que não é espontânea e precisa ser conquistada.


(MILAN, Revista Veja, edição 2161 – ano 43 – nº16.
21 de abril de 2010. P.128)



Parece-me que para pensarmos de modo interdisciplinar necessitamos de uma generosidade, que como cita a autora, “não é espontânea e precisa ser conquistada”.
Sobre interdisciplinaridade, as primeiras palavras que me ocorrem são: interrelação, entre, associações, complementações, relações entre disciplinas, assim como, recorte e colagem, referindo-se ao que não é interdisciplinaridade.
Sendo assim, é a interrelação de assuntos diferentes. É perceber o que há entre um e e outro. São as associações de ideias. É tentar complementar, mesmo reconhecendo a incompletude.
A ideia de interdisciplinaridade nos propõe uma condição de novidade e atualidade.
E é nessa perspectiva interdisciplinar que proponho minha pesquisa atual.
...
Como a obra de arte contemporânea me afeta?
Para iniciar minha resposta recorro à resposta do artista Olafur Eliasson quando questionado sobre sua intervenção artística.
Em 2000, uma mancha verde invadiu um dos rios que atravessam Estocolmo. Por quase uma hora, os pedestres e os motoristas nas margens não sabiam o que pensar. [...] Dois dias depois todos ficaram sabendo que o responsável foi o dinamarquês Olafur Eliasson, um dos mais respeitados artístas plásticos vivos, o mesmo que oito anos depois criaria quatro cachoeiras artificiais e transformaria por cinco meses a paisagem de Nova York. mas por que manchar na surdina um rio com pigmento colorido não poluente? 
Eliasson responde por e-mail: 
O rio estranhamente verde fez com que as pessoas enxergassem o mundo de uma outra maneira.
Com somente uma frase, o artista resumiu uma das sensações mais ricas que as artes plásticas podem oferecer a seu público: um novo olhar diante das coisas. (MORESCHI. Maio, 2010. P. 59). 
Olafur Eliasson. Copenhague, Dinamarca, 1967; vive em Berlim. 
...  
Da disciplina História do Corpo no Ocidente, (2010) com orientação da Márcia Tiburi, surgiu um interesse pelo corpo, ou melhor, pela representação do corpo na arte contemporânea. 
Da leitura do texto “Corpo & Alma – Uma fração da fotografia contemporânea no Brasil”, de Roberto Pontual, do livro Crítica de Arte no Brasil (p. 407-412), veio a proposta da fotografia como linguagem na produção artística brasileira.
Iniciei algumas construções de mapas, uma cartografia por palavras...
                                                                                                                                  Voz
                                                                                                                                                              Corpo e alma
                          Representação do corpo
                                                                                                              Lembrança/ memória
                                                                          Álbum de família
                                                                                                                                       História de vida
                     Imagem
                                              Fotografia
                                                                              Arte contemporânea
                            Processo criativo                                                                                                                                      
                                                                     Técnica
                                                                                                                                    Poética
                 Linguagens híbridas e derivativas
                                                                                                            Mediação

Inaugurada a 29ª Bienal, fui dia 26/09/2010 fazer uma primeira visita, com olhar de quem procura, de quem quer ver pela primeira vez, solitariamente, para deixar-me ser tocada pela imagem, se é que isso ainda seria possível.
A fotografia era nesse momento um critério de escolha. Eu procurava inicialmente pela identificação da linguagem, a forma e o conteúdo se revelavam nesse processo, assim como a materialidade das propostas fotográficas apresentadas pelos artistas fotógrafos.

Primeiras escolhas:
Lygia Pape – Língua apunhalada, 1968
Antonieta Sosa – Peresa
Jonathas de Andarde – imagem/palavra
Carlos Vergara – fotografia 3D, 1972-76- 2010
Oscar Bony – A família obrera, 1968/69
Miguel Angel Rojas – Faenza, 1979 – Bogotá, CO
Arthur Barrio – SituaçãoO RHHH-69 - performance/fotografia
Sandra Gamarra   Heshiki – Museu Inventado – fotografia/pintura. 

Foi numa aula, da disciplina  Seminários Avançados – Arte Contemporânea, orientada pelas docentes Profª. Drª. Mirian Celeste Martins e Profª. Drª. Jane de Almeida do dia 29/09/2010, sobre Materialidade, que falamos sobre Rosângela Rennó.
Na pesquisa pela internet, confirmei o nome de Rosângela Rennó, Carlos Vergara e ainda identifiquei Alessandra Sanguinette que passou a integrar o grupo.
Foi proposto que elaborássemos um material para a mediação no dia do Seminário.
Assim propus meu roteiro considerando:
·      O museu já é um espaço para ver.
·      SILÊNCIO PARA VER!
·      Pensar mediação é pensar primeiro.
·      Preservar o espaço do silêncio!
·      Como ampliar a potencialidade dos signos e de suas interpretações?

E assim desenvolvi a proposta para conduzir o meu roteiro no Seminário do dia 20/10/10, apresentando os artistas fotógrafos Alessandra Sanguinetti, Rosângela Rennó, Jonathas Andrade e Carlos Vergara.
 

A fotografia artística contemporânea tem entre suas temáticas privilegiadas, às da vida íntima e doméstica. Da linguagem da fotografia doméstica e dos instantâneos de família para uma exposição pública.
“O que importa é a presença das pessoas que amamos, num evento ou momento significativo que nos inspirou a tirar a foto” (COTTON, 2010, p.137).
 

Observando ainda o campo da temática, temos na obra de Rosângela Rennó (Belo Horizonte, MG, 1962. Vive e trabalha no Rio de Janeiro - Brasil), a memória como temática contemporânea. “Guardar vestígios do que passa muito rapidamente” é para a artista a marca da sua poética. 


Jonathas Andrade, alagoano radicado em Recife, este artista de 28 anos vem produzindo trabalhos em que sobrepõe vozes e tempos anteriores a ele. Em “Educação para Adultos”, apresenta um mural gráfico que é resultado de um laboratório feito a partir de cartazes, pesquisas, encontros e discussões sobre o método pedagógico para adultos de Paulo Freire.


E Carlos Vergara, surpreendente com a fotografia 3D!!!   
Walter Benjamin, no texto Pequena história da fotografia, nos conduz a uma reflexão sobre a fotografia considerando-a como arte ou será a arte como fotografia? 
 
“Quando o daguerreótipo, essa criança gigantesca,
tiver alcançado sua maturidade, quando toda sua arte
e toda sua força se tiverem desenvolvido,
o gênio o segurará pela nuca, subitamente, clamando:
 Aqui, tu me pertences agora! Trabalharemos juntos”.
Com essas palavras,
Antoine Wiertz, saudava, em 1855, o advento da fotografia.
(BENJAMIN, 1994, p.106)


Ver também:

Revista Trama Interdisciplinar   

v. 2, n. 1 (2011)

A fotografia como arte contemporânea

Keller Regina Viotto Duarte
Resumo

COTTON, C. A fotografia como arte contemporânea. Tradução Silvia Maria Mourão Netto. São Paulo: Martins Fontes, 2010. 248 p.

Texto completo: PDF
http://www3.mackenzie.br/editora/index.php/tint/article/view/3982

Referências:
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e politica: ensaios sobre literatura e historia da cultura. Trad. Sergi o Paulo Rouanet. 7.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Obras escolhidas; vol. 1)
COTTON, Charlotte. A fotografia como arte contemporânea. São Paulo, WMF Martins Fontes, 2010.
MORESCHI, Bruno. Captou nossa mensagem? Artigo publicado na revista Vida simples. Edição 92. Maio, 2010. P. 59) 
PONTUAL, Roberto. Corpo & Alma – Uma fração da fotografia contemporânea no Brasil. In FERREIRA, Glória (Organ.) Crítica de arte no Brasil: temáticas contemporâneas. Rio de Janeiro, Funarte, 2006.

Nenhum comentário:

Postar um comentário